domingo, 25 de abril de 2021

VERTIGEM


 2050

Leon acorda. Onde está?

Sente os membros entorpecidos, o cérebro congelado. Toca, a medo, na cabeça. Onde estão os seus cabelos?É apenas um ser em estado vegetativo, abandonado numa cave escura, numa cama bafienta.

Quem é, de onde vem, como foi ali parar? São as únicas perguntas que lhe assolam o cérebro ainda confuso.

Olha à volta. Não vê ninguém. 

2027, 

Um ano terrifico para a humanidade. Uma peste, sem causas definidas, devastara  um terço da população da face da Terra.  Entretanto, seres de outros planetas tinham-no invadido. Aproveitando-se duma humanidade enfraquecida, muitos deles intentaram os seus planos maléficos. 

Leon era um homem de meia idade, bem constituído, vibrante de vida. 

Trabalhava para uma causa que considerava maior: um projeto ecológico a nível mundial. A preservação da Natureza era tudo o que o movia. 

E sentia-se plenamente realizado  neste propósito de vida. 

Dana, a sua namorada, uma bela mulher de cabelos louros e  curvas  atraentes, acompanhava-o em todas as expedições pelo mundo no cumprimento desta missão. 

Neste ano de 2027, a humanidade acordou duma catástrofe. Apenas alguns sobreviveram. 

Aliens,  vindos de diversas partes do Universo, tinham invadido a Terra. Alguns tentavam destruir o pouco que dela existia,  e  lutavam com as forças a que Leon e Dana pertenciam, que procuravam preservar  a Natureza subjacente. 

No meio desta luta inglória,  apareceu uma espécie, diferente de todas as outras, oriunda do planeta Etheria. 

Michael era o comandante da nave e estabeleceu contacto com Leon. 

- Estamos aqui para vos ajudar! - disse, telepaticamente, Michael, cuja voz chegou de imediato ao coração de Leon. 

Este acolheu-o, abrindo o coração como se de um abraço, selado há séculos, se tratasse. Um Amor Maior, inexplicável, unia-os. 

- Sim, meu querido Michael. Urge salvar o planeta e a restante humanidade restante que sobreviveu a estes tempos difíceis. 

- Para isso, terás que conhecer o meu Planeta Etheria. Convido-vos, a ti e a Dana, a visitá-lo para aprenderes como vivemos e como somos felizes. Serviremos como modelo para criarem uma Nova Terra. 

Sem hesitar, Leon e Dana embarcaram na nave, receosos, mas ao mesmo tempo ansiosos. 

 Respirava-se e sentia-se junto destes seres doces e amigáveis uma energia de Amor, calma e etérea, como seria, de certeza, esse planeta.

A nave partiu com Leon e Dana. Ainda conseguiram vislumbrar as cinzas e despojos do seu planeta, tão maltratado, que ficava para trás. As lágrimas caiam-lhes pelo rosto. Sentiam-se impotentes. 

Agora observavam a beleza do Universo, com as suas galáxias, estrelas, planetas e sentiam-se cada vez mais pequenos. 

Perigo repentino. Um meteoro gigante aproximava-se a toda a velocidade da nave. 

Dana agarrou-se a Leon, tremendo de medo. Felizmente, passou ao lado. Estavam salvos. 

Finalmente, chegaram a Etheria. A atmosfera era leve, branca, rosa, dourada. Os habitantes vieram dar as boas vindas. Não pronunciavam palavras, mas as suas vozes eram compostas de música e poesia numa linguagem de amor que se sentia no coração. Eram aqueles que, na Terra, apelidavam de Anjos, deslocando-se com as suas asas níveas, subtilmente, conforme a gravidade do ar. 

Viviam dançando ao sabor de música celestial e nada precisavam para serem felizes. 

A Natureza retribuía esse amor, criando naturalmente o alimento de que necessitavam. 

Todos faziam parte de uma grande família de Amor que zelava, à distância, por outros planetas necessitados, através de ondas telepáticas. 

Leon e Dana não queriam acreditar no que viam. Era um sonho. O sonho que sempre tinham desejado para o planeta Terra. 

Adormeceram nessa noite embalados pela música de Etheria. 

Subitamente, foram brutalmente acordados por umas criaturas monstruosas, verdes, viscosas e repugnantes. Os Aliens do planeta Zombie tinham invadido Etheria. 

Agarraram Dana e, entre os seus braços de polvo, levaram-na para longe de Leon, que se debatia numa luta desigual para a proteger. Em vão. 

Os gritos de Dana, à medida que desaparecia nos braços do maldito ser, eram farpas que entravam nos seus ouvidos e se cravavam no coração. 

-Danaaaaaa! - gritava Leon, perante os atónitos Anjos de Etheria, agora acorrentados e impotentes perante tanta maldade. 

De repente, sente um braço verde e viscoso, agarrando-o pelo pescoço. Estava agora numa arca congeladora e começava a deixar de sentir o corpo, o cérebro fugia-lhe para longe, as mãos e os pés deixaram de se mover. Só o coração ainda batia. 

Não sabemos quanto tempo Leon esteve ali, era um coração palpitante dentro de um bloco congelado mas a viagem que fez, foi alucinante e ao mesmo tempo mágica. 

O coração de Leon não parava de bater e agora não tinha barreiras nem fronteiras. Viajava por todas as galáxias existentes no Universo. Conheceu-se noutros corpos, noutros mundos, noutras vidas. Sentiu que era um Ser fantástico e poderoso. Como comandante, apenas o coração o guiava nesta viagem. 

Viu-se e reconheceu-se numa estrela, numa flor, numa criança, no mar infinito, numa árvore, num pássaro. 

Ele era tudo. Será que afinal Deus se tinha personificado em si mesmo? Ou será que tudo o que sentia era a essência divina na sua totalidade? 

Uma Paz infinita apoderou-se do seu ser e o calor dessa Paz e desse Amor quebrou-lhe o gelo que o embalsamava.

2050

Acordo.

Não sinto o corpo. É algo exterior a mim. Não conheço este invólucro onde estou afundado. 

Quem sou? O que estou aqui a fazer? 

Abro os olhos ainda  obscurecidos e observo à volta. 

Não vejo nenhum ser. 

Tento mexer uma perna. O degelo deste invólucro que não conheço inicia-se.

Toco com os dedos na parede do buraco onde estou. Consigo, aos poucos, sentir um cheiro nauseabundo à minha volta. Uma mistura de mofo e dejectos inunda a zona circundante. 

Salto deste abismo. Bamboleante, oscilante e a medo, saio. Encontro uma cidade. Ah! Recordo-me agora. Este é o meu planeta! 

Mas não há ninguém. Vagueio, perdido, pelas ruas e não vejo nem uma pessoa. Onde estão todos? 

Que aconteceu?

Entro num supermercado. A porta estava aberta. 

Para minha surpresa, as prateleiras estão cheias. 

De repente, penso:

-Onde está o meu amor, a minha Dana? 

 Agora lembrei-me da maneira atroz como me foi tirada por aquele ser horrível. 

Continuo a percorrer as ruas desertas. Sou o único ser vivo ao cimo da Terra. 

Nem um animal para me fazer companhia. 

Confundo a ilusão com a realidade. 

Será que foi tudo um sonho? Ou fruto da minha imaginação? 

Será que tudo é um SONHO, o local onde vivi sempre? 

Se o sonho é criado por mim... 

De repente, acordo e vejo na minha frente a figura mais bela e amorosa que alguma vez vi. 

- Dana, és tu? 

E, no meio de um abraço e de um beijo ardente, fundimo-nos num só corpo que se esfuma no espaço e se perde no ar até ao infinito. 

Agora somos só nós na nossa Casa de Amor.


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