Tinha ido visitar a lua.
Dª Xica que tinha fama de feiticeira na aldeia.
Vivia sozinha num casarão enorme e velho, grande demais para albergar aquele corpo tão enfezado.
Raramente alguém a via.
Vestida sempre de negro, um pequeno carrapito no alto da cabeça, sapatos rotos de velhos sempre a chinelar sobre uns pés magros de unhas enormes e sujas, um rosto carrancudo, olhos misteriosos, nariz adunco.
Ninguém tinha a coragem de se aproximar. Sabe-se lá porquê!
Adivinhava-se o cheiro a mofo e bolorento dentro de casa, as teias de aranha, o fumo constante da lareira. Uma imensa e negra floresta estendia-se ao redor.
O medo instigava à solidão desta enigmática personagem.
Em noites de lua cheia, sabia-se (sabe-se lá como) que saía à rua – dizia-se- saía, chinelando, pé ante pé.
Nessa noite, Dª Xica teve um arrepio de medo. Que monstro era aquele, magro, enorme, que se aproximava?
“De noite todos os gatos são pardos” – balbuciou, tremendo.
Reparou, num relance, que o pressuposto monstro nada mais era que um gato enorme, preto, que, sem medo, se aproximava. Miava, dando-lhe “marradinhas” com a sua cabeça peluda, grandes olhos verdes. Nunca nenhum ser vivo se tinha aproximado dela assim.
A paixão foi tal que o levou para casa. Malacueco ficou o seu nome.
Anos e anos de amor entre ambos se seguiram.
O gato negro seria objeto dos seus feitiços? – perguntavam-se os aldeões.
Num dia, muito negro e chuvoso, Malacueco surgiu no largo da igreja, miando aflitivamente. Ninguém sabia o motivo desse pranto gatil.
Alguém, mais afoito, resolveu ir à casa da dita feiticeira.
Numa cama de rosas, rodeada de velas, odores paradisíacos, estava uma dama, linda de morrer. Dª Xica tinha morrido. Era bela a imagem que os curiosos observavam!
O encanto desfizera-se! Malacueco não parava de miar, aflito.
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