Sinto-me na pele

Sinto-me na pele e arde
um arrepio gélido percorrendo meu Ser...
Exulto em sentidos descarnados, desiguais, descontínuos...
Unindo o meu sentir ao Olhar do Infinito...

Sinto-me na pele...
E o que sinto já não sou eu...
É dor e prazer juntos, constantes,
numa sintonia ritmada
e dormente....

Sinto-me na pele e não sou mais eu...

Ondas de mar que vão e vêm...beijar meus pés

Ondas do mar...turbulentas, brincalhonas, irrequietas...
Vêm beijar meus pés...
Desafiam-me ...tocam-me gélidas, como querendo brincar comigo...
E logo regressam a casa, à Casa onde também quero regressar...
Mas as ondas do mar vêm e vão...
Indiferentes a essa minha vontade...
Brincando...deixando os meus desejos de parte...

Queria juntar-me a elas...
brincar na areia da praia...
olhar o sol...buscar as estrelas à noite...
juntar as conchinhas da praia, os búzios e as estrelas do mar...
e vogar nesse constante ir e vir divertido e alegre...
deixar-me envolver nessse Mar imenso, por vezes calmo, outras vezes  turbulento..
numa inconstância que só a Natureza permite...

Pés descalços

De pés descalços caminhava pela areia molhada da praia...
Sentia todo o seu Ser, fundindo-se no solo..
Penetrava-lhe pelos poros a Natureza fresca
Sentia a brisa do mar percorrendo-lhe o corpo...

O vento  cantava-lhe poemas ao ouvido...
E num doce torpor a mente fundia-se com o Azul do Céu, do Mar...

Abraçava-a com Amor...
as ondinhas tocavam-lhe docemente a nudez dos seus pés,
cansados e frágeis de caminhar pelas Areias da Vida...
na busca incessante de chegar àquele Mar Azul, aquele Mar Celeste...

Pássaro ferido

Era um pássaro ferido...
esvaído no sangue da sua própria liberdade...
Asas pendendo, sem forças para voar...
debruçado em si mesmo...
na dor do seu Ser cativo...
querendo soltar para sempre....
abrir suas enormes asas para o Mundo...
lançar-se nos Céus sem destino...
procurando seu Lar...
...para sempre...
sarar suas feridas....limpar suas lágrimas..
Libertar suas mágoas....
e deter-se pela eternidade no branco, doce e macio peito alado dos Anjos...

Constelação de amor

Tonight I can write the saddest lines
write, for example: "The night is starry,
and the blue stars shiver in the distance..."
The night wind revolves in the sky and sings
Tonight I can write the saddest lines
I loved her, and sometimes she loved me too...
Through nights like this one I held her in my arms
I kissed her again and again  under the endless sky..

She loved me sometimes and I loved her too
How could one not have loved her great still eyes...
To think that I do not love her,
To feel that I have lost her
To hear the immense night
still more immense without her.
And the verse falls  to the soul like dew to the grass...

What does it matter that couldn't keep her
The night is starry and she is not with me
This is all. In the distance someone is singing...
In the distance .
My soul is not satisfied that it has lost her...

My sight searches for hear as though to go to her..
My heart looks for her and she is not with me...
The same night whitening the same trees
We, of that time, are no longer the same...

I don't love her, that's certain,
but how I love her...
My voice tried to find the wind to touch her hearing...
Another's. She will be another's like my kisses before...
Her voice. Her clear body . _Her infinite eyes...

I no longer love her, that's certain
but maybe I love her
Love is so short, forgetting is so long...
Because through nights like this one
I hold her in my arms
my soul is not satisfied that it has lost her...

Though this be the last pain
that she makes me suffer and these the last verses that I write to her...


Pablo Neruda

Afinal o que é o Amor?

Desgastaram, usurparam, violaram, banalizaram, difamaram...
a palavra mais pura, mais simples e despida que é o AMOR...
Usada  e abusada...com todas a espécie de conotações, conceitos e significados...
corrompida de todos os modos e para todos os gostos...

Chamam-lhe tudo, deêm-lhe todas as definições...Só o verdadeiro sentido do AMOR persistirá e resistirá
a todas estas intempéries ...

AMOR verdadeiro existirá, o amor puro...que começa em nós próprios e se doa  aos outros..o AMOR que nada espera em troca, que se dá por inteiro....incondicionalmente!

É tempo de retirar as máscaras

É tempo de retirar as máscaras...
pesadas, duras que nos oprimem...
nos comprimem os ossos, os músculos, o íntimo...
É tempo de (des) mascarar!...
É tempo de pôr tudo a nu...
É tempo de (des)nudar...
Urge aliviar a carga que carregamos sobre nosso rosto,
pesada pela formatação de um tempo, de uma era
que já foi, que se acabou nas esferas onde
não há mais espaço para a falsidade, para a hipocrisia, para a mentira...

É tempo de nos mostrarmos sãos, limpos das máscaras que nos forçaram a carregar em nossos corpos e mentes, torpes do peso insano duma manipulação sem sentido...
Urge derrubar e queimar as máscaras!!!!

Eduarda Mãos de Tesoura

Tinha entrado num salão do filme Eduardo Mãos de Tesoura...

Uma Eduarda Mãos de Tesoura surge, imponente, penteado semelhante a este personagem de filme, do fundo do salão, decorado com várias cabeças de homens e mulheres, crâneos vazios de pensamentos, dispostos em fila, esperando ser usados, manipulados por mãos ávidas de tocar nossos cérebros, nossos pensamentos mais profundos...

Eis que surge a Professora Eduarda Mãos de Tesoura, suas unhas verdes, cortantes como tesouras, fato cinzento e no alto do seu metro e oitenta, camuflada por umas botas altas militares, impõe o silêncio na sala, com a ajuda dos secadores de pé que se dispõem em fila e ensurdecem os ouvidos...

De repente, um rodopiar de tesouras, de cores pelo ar, mãos e tesouras que giram, cortam, cores lançadas, pratas que se agitam, mãos que manipulam cabelos revoltos e ávidos de vida e cor...

As cabeças reluzem , transformam-se e ganham vida!...

Fada-Madrinha....fada-princesa!...

(Dedicada à minha filha que, quando criança, procurava a sua fada no jardim da avó)


" Fada-madrinha...fada-princesa!..." - saltitava, com o seu jeitinho de bailarina no seu vestidinho branco de folhos, rodeando o jardim das flores de todas as cores...lírios, violetas, rosas...e lá cantarolava a minha pequenita na esperança de encontrar a sua pequenina fadinha branca e transparente de luz...
Trazia no seu regaço ofertas de gengibre, mel, canela, leite e bolinhos....coisas que só ela sabia que as fadas apreciam!...
Continuava cantarolando para atrai-las, dizendo: " O que é meu é Seu, o que é Seu é meu!..."...acariciava as plantinhas com quem trocava as palavras mágicas das fadas e todas em uníssono se abriam num cântico para cativar esses seres fugidios fantásticos habitantes das pétalas das flores, das gotas das águas...
De repente, lembrou-se que talvez elas poderiam vir tomar banho com ela naquele lago inundado de pétalas de rosa...e lá continuou chamando: "fada-madinha, fada-pincesa!..."

Encontraram-se ambas finalmente naquele lago azul feito de pétalas das rosas caídas das roseiras desfolhadas pelo tempo, partilhando o mel, a canela , os bolinhos e o leite!
E a fadinha transportou-a ao colo...ela tocou-lhe no seu vestido de cores, branco, ouro, azul e verde... levou-a, por fim nas suas asas de libélula perfumadas com aroma de incenso ao seu palácio encantado no País das Fadas...
A sua vida ficaria para sempre cativa deste encantamento mágico da sua Fada-madrinha, pois havia partilhado a sua comida com ela e dançado a música celeste das fadas!...