sexta-feira, 3 de abril de 2020

Lá fora



Lá fora está frio...
O caos em cada esquina, nesta Pimavera tímida, ora fria, ora chuvosa ou solarenga.
Há um circo deambulante, que parou, no meio da cidade...
Já não se ouve a música, os palhaços e o vislumbre dos risos das crianças...agora, está ali parado, à nossa frente, lembrando que todo este espetáculo da vida de repente estacou no tempo!
Talvez passeie por ali um palhaço triste ou uma criança com fome, à espera dos dias alegres de outrora, quando viajavam de terra em terra para alegrar as crianças...
Na rua,passa um sem-abrigo que vasculha à pressa o contentor do lixo e transporta todos os sacos que lá encontra.
Num qualquer apartamento, num andar escuro e feio, vive uma velhota, solitária...sente medo...não percebe o que está a contecer, já viveu tanto tempo! Tem como único aconchego um gatinho, companheiro de anos vida. Dorme quase sempre para sonhar que esta realidade é um pesadelo.
Bem perto, uma luzinha trémula brilha...tem lá dentro uma criança, que não sabe porque todos os seus amigos têm os pais em casa e ela não. Tem que esperar que seja noite para os ver chegar, desfeitos de cansaço, depois de mais uma longa batalha contra um inimigo desconhecido, naquele hospital irrespirável, por debaixo das máscaras.
Os avós choram com saudades dos netos. Os pais choram com saudades dos filhos. Os abraços tardam. As familias anseiam por estar juntas de novo e celebrar uma Resurreição que se vislumbra ainda longe.
O medo, esse, esconde-se por baixo da pele, tenta arrebatar os mais fracos...
Entretanto, numa cama de hospital, alguém sucumbe, o ar rouba-lhe a vida lentamente...sabe, que morrerá sozinho e que ninguém o acompanhará à ultima morada...uma lágrima, corre pelo seu rosto!

Cá dentro, aninhada ao teu ombro, sinto a comodidade da ilusória segurança...adormeço e sonho com um Mundo Novo!

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