terça-feira, 28 de abril de 2020
Mesmo que...
Mesmo que o meu corpo não possa abraçar, o meu peito sempre estará aberto para acolher...
Mesmo que os meus lábios já não saibam beijar, brotarão sempre botões de rosas cheias de perfume para te rodear...
Mesmo que as minhas mãos não te possam tocar, sentirás sempre o toque do meu coração...
Mesmo que a minha alma chore, sempre verás no meu olhar um sorriso para te alegrar...
Mesmo que não possas ver a minha boca, sempre ouvirás as minhas palavras de amor...
Mesmo que os abraços e os beijos se esqueçam, nunca abandonaremos os afectos...sempre estarão presentes num olhar, num gesto, numa palavra...no Amor!
quinta-feira, 23 de abril de 2020
Arca de Noé
Naquele tempo de mudanças inesperadas e de ameaças invisiveis, a arca de Noé abriu-se de novo para albergar e defender da doença e da morte.
Entraram nela todas as especies de raças humanas, de todas as cores, de todas as religiões, de todas as classes, de todas as etnias, o mais rico e o mais pobre.
De fora ficaram aqueles que não tiveram tempo de escapar para dentro da arca...e todas as especies animais ao cimo da Terra.
Esta arca enorme abarcava dentro dela várias arcas mais pequenas onde cada família repousava da vida atribulada que tinha tido lá fora...cada um sonhava com um mundo novo, embora com medo, sempre brilhava a esperança!
Lá fora o sol ainda brilhava, as flores ainda cresciam, os pássaros ainda chilreavam, as ondas ainda batiam na areia da praia...restava esperar a nova estação do ano.
E reflectir, meditar e ser melhor para voltar a sentir os pés numa nova terra, mais pura, mais brilhante, onde todos dariam asmãos!
E todos os animais, de todas as espécies, com os humanos se reuniriam numa grande festa feliz!
segunda-feira, 13 de abril de 2020
No casulo
Sou lagarta dentro do meu casulo, aprendendo a ser borboleta...
Já esqueci o tempo que aqui estou enclausurada!...
Será que o tempo parou ou fui tudo ilusão?Será que adormeci dentro deste ninho?
Sou apenas uma larva, tentando soltar asas .
Se me soltassem agora, sei que poderia morrer...os perigos espreitam lá fora!
Cá dentro estou a salvo e posso crescer à vontade!
Sinto a metamorfose dentro de mim mesma, são como dificeis dores de parto...
Sei que renascerei um dia e terei asas de borboleta; voarei por esses céus sem parar, em liberdade e alegria!
Entretanto, aninho-me no meu casulo e cresço!
quinta-feira, 9 de abril de 2020
A máquina do tempo parou
A máquina do tempo parou...
Uma parte de mim ficou adormecida bem longe, esquecida nos tempos e na memória.
Menina que fui, agora quer ser resgatada do ventre onde fui esquecida, num turbilhão de horas frenéticas da vida imparável.
A máquina do tempo parou!
Tenho que acordar a menina que fui! É urgente! Onde ficou a inocência, a pureza e alegria;os sonhos esquecidos?
Resgatem-se os minutos, as horas, perdidas do tempo que não era meu!
Desenterrem-se os fantasmas que voam no escuro! Regresse-se à Luz! Libertem-se os sonhos!
Ainda há tempo!...se o tempo voltar!...
Ainda há tempo para os abraços, para me abraçar, para nos abraçarmos....
Quando a máquina do tempo voltar a girar...
sexta-feira, 3 de abril de 2020
Lá fora
Lá fora está frio...
O caos em cada esquina, nesta Pimavera tímida, ora fria, ora chuvosa ou solarenga.
Há um circo deambulante, que parou, no meio da cidade...
Já não se ouve a música, os palhaços e o vislumbre dos risos das crianças...agora, está ali parado, à nossa frente, lembrando que todo este espetáculo da vida de repente estacou no tempo!
Talvez passeie por ali um palhaço triste ou uma criança com fome, à espera dos dias alegres de outrora, quando viajavam de terra em terra para alegrar as crianças...
Na rua,passa um sem-abrigo que vasculha à pressa o contentor do lixo e transporta todos os sacos que lá encontra.
Num qualquer apartamento, num andar escuro e feio, vive uma velhota, solitária...sente medo...não percebe o que está a contecer, já viveu tanto tempo! Tem como único aconchego um gatinho, companheiro de anos vida. Dorme quase sempre para sonhar que esta realidade é um pesadelo.
Bem perto, uma luzinha trémula brilha...tem lá dentro uma criança, que não sabe porque todos os seus amigos têm os pais em casa e ela não. Tem que esperar que seja noite para os ver chegar, desfeitos de cansaço, depois de mais uma longa batalha contra um inimigo desconhecido, naquele hospital irrespirável, por debaixo das máscaras.
Os avós choram com saudades dos netos. Os pais choram com saudades dos filhos. Os abraços tardam. As familias anseiam por estar juntas de novo e celebrar uma Resurreição que se vislumbra ainda longe.
O medo, esse, esconde-se por baixo da pele, tenta arrebatar os mais fracos...
Entretanto, numa cama de hospital, alguém sucumbe, o ar rouba-lhe a vida lentamente...sabe, que morrerá sozinho e que ninguém o acompanhará à ultima morada...uma lágrima, corre pelo seu rosto!
Cá dentro, aninhada ao teu ombro, sinto a comodidade da ilusória segurança...adormeço e sonho com um Mundo Novo!
quarta-feira, 1 de abril de 2020
Não pode ser
Não pode ser!
Não posso continuar nesta hibernação, nesta armadilha, na qual, inesperadamente, fiquei presa.
Que bolha é esta onde me encontro agora? Será ilusão, será sonho?
Mundos, dentro de um mundo maior a que pertencemos...sinto-me entorpecida, quase anestesiada...
Neste ar irrespirável, movo-me, à procura de quem sou, encarcerada sobre mim mesma.
Nesta repetição de dias iguais, resta a esperança da transformação do que não pode mais existir.
Não mais ódio, não mais desunião, separação, não mais indiferença perante a Natureza!
Não pode ser!
Não posso continuar nesta hibernação, nesta armadilha, na qual, inesperadamente, fiquei presa.
Que bolha é esta onde me encontro agora? Será ilusão, será sonho?
Mundos, dentro de um mundo maior a que pertencemos...sinto-me entorpecida, quase anestesiada...
Neste ar irrespirável, movo-me, à procura de quem sou, encarcerada sobre mim mesma.
Nesta repetição de dias iguais, resta a esperança da transformação do que não pode mais existir.
Não mais ódio, não mais desunião, separação, não mais indiferença perante a Natureza!
Não pode ser!
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