sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Árvore, mãe do fruto



Pendurou-se numa folha, tentando a custo equilibrar-se ao vento...
Sentia que podia cair a qualquer momento e estatalar-se no chão, desventrando-se, caroço, seu coração, desfeito no chão...arrepiou-se! A sua casca ainda verde, sentiu um arrepio que lhe atravessou o suco e a polpa toda!
Pendurou-se noutra folha mais alta, tentou agarrar-se a um ramo que por força do vento, lhe queria fugir...
E, oops...lá estava ele naquele ramo, filho daquela mãe árvore possante e majestosa, poderosa perante as intempéries, forte, como só uma mãe pode ser...
Tinham-lhe contado que o fruto probido era o mais apetecido...
Talvez que chegando lá ao alto, tão longe que as mãos dos humanos não pudessem alcançar, pudesse sentir que seria apetecido, mas nunca deglutido...
Subiu mais um pouco e, no último ramo, sentou-se, sorrindo à brisa do vento que lhe assobiava ao ouvido, acenando aos pássaros que por ali voavam, tentando dar-lhe uma trincada...
Agora podia embalar-se no colo daquela mãe forte, aquela árvore que o acarinhava...sentia-se seguro!
E só sairia dali quando a idade não o permitisse mais equilibrar naquele ramo! O Sol, amadurecia-lhe as costas e o ventre! Que bem se estava ali naquele imenso paraíso verde!

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Caminhando sobre castelos de areia



Caminhava só, a passos largos, na areia de praia, junto ao mar...
Cada grão de areia...pensamento correndo mais veloz que os pés...
Porque estava ali? Quais os designios misteriosos duma vida que percorria sózinha?
Porque se tinham desfeito tantos sonhos, tantos castelos de areia construídos na areia daquela praia?
Porque caminhava para lado nenhum? Que porto distante ainda a esperaria?
Sentou-se...olhou as crianças à volta...como eram felizes, nada questinando!
Como são felizes os simples que nada questionam sobre a vida?
Continuou caminhando para lado nenhum, cada grão de areia, cada pensamento vadio...

domingo, 26 de agosto de 2018

A menina esquecida



Recorda-me o cantarolar do galo logo pela manhã, os pássaros tocando na janela com seu chilrear, o cheiro do leite acabado de sair da vaquinha, o café feito pela avó no borralho, o pão escuro e grosseiro pronto na mesa para saciar a vida de um dia...As caminhadas a pé para a escola em manhãs de Inverno, enfiada em roupas de lã...
Recorda-me as fontes de água onde com a avó, ajudava a lavar a roupa, o cântaro de barro de água fresca a cantarolar, onde mergulhávamos um púcaro para refrescarmos...Recorda-me o cheiro do pão e da broa acabados de sair do forno...
Recorda-me os pic nics em dias da Ascensão, quando colhiamos papoilas e faziamos um ramalhete...
Recorda-me as desfolhadas na eira, na esperança de encontrar o maçaroca de milho vermelho.
Recorda-me as brincadeiras na rua, quando os nossos brinquedos poderiam ser uma simples pedra ou uma simples flor ou erva daninha...Recorda-me como era o jogo da macaca, a cabra-cega, andar de triciclo pela rua...
Recorda-me quando corria sem destino pelos campos com o meu cãozinho...a liberdade como companhia!
Recorda-me o cheiro dos pinheiros, a paz do verde circundante...
Recorda-me a ida à missa aos domingos com a avó,  cheirosas e bem vestidas como se de uma cerimónia se tratasse...
Recorda-me os cheiros, sabores, sons e cores da infância...e serei de novo menina, criança!



sexta-feira, 24 de agosto de 2018

SURREAL



Gravitam os sonhos, perdidos, refugiam-se nas paredes ocas e surdas do quarto...
Choros de crianças regurgitadas pelos poros dos murais já sem vida, sucumbindo...
Doces e amargos sabores de lembranças remotas entranham-se na humidade da noite, e o frio é acolhido num leito quente da espera...
Rodopiam e giram os sonhos por entre dedadas loucas e palmas das mãos que os tentam segurar...
Em vão...
nuvens de fogo dissipam-nos...
e agora...pairou apenas o pássaro de fogo sobre os corpos, latejando de dores!

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Entre o sonho e a realidade



Viviamos em mundos diferentes...
Um dia tocaste o meu mundo com a ponta do teu dedo...
um arrepio percorreu-me a pele...
uma nuvem azul feita de magia e fantasia pairou sobre nós...
e num beijo, entrelaçámos as mãos...
Mas tu habitavas um castelo com portas intransponíveis e eu morava numa masmorra...
...uma lágrima rolou sobre o meu rosto e foi poisar na tua mão cujos dedos se esqueceram de mim...
Entre o sonho e a realidade, restou a lembrança de uma tarde de verão num castelo onde tu és o princípe, eu a princesa de todos os contos...onde o amor seria o rei das nossas vidas...se um dia o teu mundo se abrisse para o meu...

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Deixa o coração ditar as palavras




Deixa o coração ditar as palvras presas na garganta, soltá-las ao vento...
Engasgadas nas veias rubras da vida, desencontradas nas encruzilhadas...
Perderam-se no livro da vida...
Numa página em branco, esboçaram um sorriso de esperança, tingido em tons de verde...
Coração mudo de dor, surdo de saudade,
onde deixaste ficar para secar, as palavras doces do amor?
A liberdade espera-te, ainda, para acordares um dia nos braços do mar e te diluires nesse infinito azul celeste!


segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Rendo-me a ti, Vida



Rendo-me a ti, Vida
com teus designios insondáveis,
com teus caminhos por desbravar
com todas aquelas questões tão inquestionáveis...
És perfeita e esplendorosa, Vida, com todas as tuas ilusórias imperfeições!
Te venero, Vida, em todas as tuas formas, em todas as tuas faces...
Pulsa em mim, e deixa-me adivinhar os teus segredos!
Rendo-me a ti, Vida!