Noiva das ondas

Noiva das ondas
Irmã do Mar
Perdes-te no Amor da espuma da areia...
Vais e vens no colo das saias  brancas do teu vestido alvo, puro, virgem...

Noiva das ondas
Que ousas vaguear por entre os braços do Mar que te aconchega ...
O teu corpo funde-se na candura das tuas águas, límpidas, transparentes...
Num gesto eterno de Amor  que se dissipa no Oceano etéreo, imenso...
Desapareces enfim, envolta nesse gesto de ternura, enrolada nas ondas de carinho..
E o Universo sorri...

Arrumar gavetas

Chegou o tempo de arrumar gavetas...
Abrir uma a uma e tirar o ar bafiento que se transformou com o tempo em pó denso, pó nefasto...
Desgastadas pela passagem do tempo...
Removo tudo o que já não uso...
Deixo-me ir com as gavetas do tempo as dores, as mágoas...
as nódoas que persistem na alma...
e limpo pouco a pouco...
Renovo...e volto de novo...
num abrir e fechar de gavetas que transformo em armários abertos, como janelas que olham para o Sol e se abrem de par em par...deixo entrar o Ar que me faz respirar!...

Foges

Foges...
foges de quê?
Foges de ti...
foges das tuas pegadas...
Foges do nada...
foges, foges...
Foges e sentes o encontro...
Foges do que não queres...
Foges, correndo...tropeçando na vida...
Foges para agarrá-la...
E ela foge de ti, qual pássaro querendo fugir da gaiola onde se sente aprisionado...
Foges do que foste ao encontro do que és...E serás!

Folha branca escrita a sangue

Folha branca, nua, bafienta, já amarrotada...virgem de poesia...
folha onde me confesso...
folha que espera a pulsação das minhas veias...
cujo sangue derramo...
e por ela espalho o correr da minha dor, da minha paixão...

Folha branca que me desnudas...
Folha lançada ao vento do meu desgosto...
Levas e trazes as lembranças de uma tinta que escorre e se desfaz com o percorrer veloz do tempo...

Folha branca, cuja pureza,  jamais se dissolve na voracidade das palavras escritas...

Fluindo ao sabor do vento...

Sou uma árvore de folhas ao vento...
Sou um pássaro
Sou um rio
Sou um mar
Viajo ao sabor do vento...
Minha alma parte para além das grades da vida terrena...
Busca, fluindo com a brisa que passa...
Tentando embarcar no fluido do ar que tudo move, tentando abraçar a sua passagem para outros mundos, outras paragens, algures entre o etéreo e o divino...mas minhas raízes seguram-me com força à Terra que ainda produz as minhas sementes...

Não, o Céu não é o limite

O Céu não é o limite...
Existem infinitas estrelas, galáxias de Luz para lá do Firmamento...
Brilhantes, luminosas chuvas cintilantes transportando amor
nos seus corpos, dourados, infinitos, eternos...
O limite está em nós...queremos pegar numa estrela e achamos que somos fracos e pequeninos...
No entanto, está em nós o Poder gracioso e mágico de abarcar no nosso regaço toda
essa infinidade de miríades de luzes celestes que ofuscam nossos olhos que teimam em não querer ver!...

Voarei para lá do Céu, para lá do horizonte...e deixar-me-ei  levar nas Asas de um Anjo numa viagem mágica sem fim!...

Escrever-me

Escrevo-me numa página em branco...
Sublinho palavras que ficaram presas ao peito, palavras agrilhoadas nas emoções, palavras fortes, palavras doces, amargas, palavras de amor...
E continuo escrevendo-me, revendo-me na tinta de uma vida que corre...tinta tingida de sangue, corrente de rio para o oceano...
Escrevo-me e não sei as letras, analfabeta de mim nesta escrita que procura a sua rima....

Esperança

Esperança é um rio que corre para o mar...
é um raio de sol batendo na vidraça...
é um sopro de vento que passa...
é um botão de flor que desperta...
é um choro rompendo em grito na nota de alguém que nasce...
é um sonho que se espalha numa vida...
é um adormecer contente...
é correr por entre os trigais dos caminhos da vida...
é ficar e ir...pensar...e adivinhar...
uma manhã submersa num oceano de ondas turbulentas...
e o despertar  num mar sereno de azul infinito....

Encontros e desencontros

Encontros e desencontros de mim...
Permanente busca nas encruzilhadas da vida...
Espanto de admiração nos entroncamentos da minha profundidade...
...subtileza ao sentir...
Encontro-me e desencontro-me e no meio destes encontros e desencontros,
sublimo o meu Ser e estampo-me no espelho convexo da minha alma...

Névoas

Carrego em mim todas as possibilidades, todas as vertentes, todos os tempos, passado, presente e futuro, todas as possíveis e imaginárias vidas paralelas...dentro da minha liberdade que desconheço...

Porém, estas possibilidades são-me vedadas pelos véus que me tapam a visão...e por entre estes enigmas que não vislumbro, procuro encontrar e desvendar em vão as respostas para mim mesma...afinal, o que me foi dado escolher...? O que poderei escolher?...como ser livre que sou...

Percorro o caminho, tacteando às escuras, como um cego, movimentos livres no meu andar, mas com a visão permanentemente turva... aonde encontro a minha liberdade?

Onde encontro o caminho por entre as névoas?....

Raio de sol

Num dia de Verão, surgiste, esplendoroso, quente,
abraçaste-me a alma, queimaste-me o Ser...
A tua Luz brilhou sobre minha cabeça como o vigor da essência divina que tudo contempla...

Como um raio de sol surgiste...
como um raio de sol desapareceste... apagado, desvanecendo por entre as nuvens das sombras que cobrem os caminhos duma vida...

Jamais meu Ser deixou de sentir a Luz que brilha do raio desse Sol daquela tarde de Verão...