sábado, 13 de março de 2021

Lucília, a mosca


-Ai! Tremo de medo, no meio desta podridão. Mas não vou desistir. 

A minha avó Larva era uma idosa muito sábia. Ela achava que neste mundo ou”se come ou é-se comido” (estas foram as suas palavras ao dar o último zumbido). 

Quando nasci, a minha mãe, D. Pupa, uma crisálida forte e linda de morrer, deu a sua vida por mim. Aí, percebi que a minha missão era grande e especial!  

Eu era uma mosquinha feia e repugnante para os outros. A primeira vez que me vi ao espelho até me assustei! Uns grandes olhos negros, enfastiados, ornavam-me o rosto.

Só gostava das minhas asinhas transparentes. Faziam-me lembrar a minha mãe.

Mas depois, quando via as borboletas, tão lindas, tão coloridas, sentia inveja de não ser como elas. Sentia-me um “patinho feio”.

Eu não acredito naquilo que a minha avó me deixou impresso no ADN. Comer para não se ser comido...que ideia!

Sei que nós, as moscas, não somos bem vistas. Enxotadas, afugentadas a toda a hora. Consideradas nojentas. 

Mas  a minha missão é demonstrar que todos fazemos parte de um Plano, de um Todo no Universo. Todos temos o nosso lugar neste planeta e somos precisos e úteis.

Mas, agora, estou a tremer de medo  neste cadáver pútrido, onde me debato com vários inimigos. A minha morte não será em vão. O assassino desta senhora será descoberto, mesmo que eu tenha que morrer.                                                                                                                                                                                                                                                                    

                                                                                         

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