Há muito que se sentia abandonado, só, triste e inútil, aquele banco de jardim. Questionava a razão da sua existência, o caruncho roendo-lhe aos poucos as pernas, as manchas negras sulcando-lhe a pele.
Passaram os dias em que as folhas secas que lhe caíam em cima eram o seu único e simples consolo. Depois veio a chuva, refrescando-lhe o corpo e alma solitária e esquecida.
Sentia saudades dos velhos que vinham todos os dias, apanhar um pouco de sol e sorrir à vida. Tantas histórias que escutar! Histórias de vida duras e cheias de sabedoria.
Às vezes vinha um casal de namorados e todo ele vibrava entre beijos, abraços e toques de amor.
As crianças, essas, pulavam-lhe em cima, escondiam-se atrás dele, brincavam e riam. Ele rejuvenescia dentro da sua madeira corcumida pelo tempo.
Um ou outro solitário tinha já encontro marcado com ele a certas horas de silêncio e partilhavam poesias, leituras, escritas e segredos. Eram momentos únicos.
Agora estava ali, abandonado, esquecido, esperando melhores dias. Para sua companhia, apenas umas ervas daninhas que se iam abraçando às suas pernas, e o cheiro de algumas flores que começavam a despontar.
Mas, tudo iria passar em breve.
Num bonito dia de sol, cabelos soltaram-se ao vento, louros, ruivos, castanhos, de todas as cores. Lembravam-lhe as folhas de Outono.
As borboletas soltaram-se, anunciando a Primavera e até as flores se esticaram, emanando perfumes doces e coloridos.
Uma senhora idosa, bem penteada, de sorriso no rosto, aproximava-se.
Conheceu-a logo. Que saudades dos seus monólogos, dos pensamentos que só ele conseguia ouvir através dos fios de madeira do seu corpo!
Soltou um grito de alegria que viajou da terra ao céu. Finalmente, estava de novo acompanhado. Iria assistir ao nascer da Primavera pelos olhos de alguém. De repente, sentia-se tão macio como não se sentia há muito! Espreguiçou-se, deixando-se levar pelos pensamentos dos transeuntes.