Mergulho

Mergulho sem medo
Presa numa loucura frenética
por fios invisíveis,
amarras que prendem
aos confins de um abismo profundo
Onde minha alma escuta o vazio
Onde o tudo é nada
e o nada é tudo...
Soltam-se as amarras e o que era vazio tornou-se azul
e o que era eu
é essência
Mergulho na loucura do Divino, perco-me no meu mar azul...

Dissolvemo-nos

Adormeci em ti...
Dissolvemo-nos na noite escura perante o foco de luz que ilumina as nossas sombras
As corujas lá fora no breu proclamam o segredo dos nossos corpos, o fulgor das nossas almas
Sabemos que nesse momento nos fundimos num só
Os seres que na noite vagueiam por entre os cedros, esperam, lânguidamente , sentados no parapeito da nossa janela, pelo acordar de uma nova manhã
Esperam...
e acordo em ti!

No horizonte longíquo

De encontro a um horizonte longínquo
lá longe, onde minhas asas almejam chegar,
meus pés doridos de tanto caminhar
atravessam essa passagem...
Luz que penetra nos meus olhos que a vista não alcança,
lágrimas de saudade
da Casa, lá longe...
onde minhas asas querem chegar
e meu corpo, cansado, tarda em descansar na minha Casa, lá longe...
que os véus insistem em tapar...

Do outro lado de braços abertos

Sei que estás no outro lado da margem à minha espera...
Sei que a travessia será longa e demorada
As  ondas conturbadas, tentarão fazer-me recuar
Sopros de vento tempestuosos poderão forçar-me a parar
Gritos de angústia soarão aos meus ouvidos tentando impedir-me
A travessia será solitária
Remarei contra ventos e marés para te reencontrar..
Sei que estarás do outro lado da margem, do outro lado de véu
para me abraçares de braços abertos

Escada para o Céu

Subo...
quero lá ficar!...
quieta, embalada, no colo dos Anjos!...
...mas mais um sopro de Vida...
faz com que desça...
Agarro-me ao corrimão da escada
com medo de cair...
peço ajuda às mãos que lá em cima me esperam no calor de um abraço que me quer envolver...
Estremeço por este constante subir e descer...
Agarro nas palmas das mãos bocadinhos de nuvens embrulhadas no algodão doce e fugaz da felicidade...
Cada degrau dessa escada é uma nota de música na pauta da vida...risos de alegria soltos ao vento ou histórias de lágrimas em noites de solidão...
Nessas noites os anjos aclamam o poder da eternidade...
Eu quero subir...
Mas sussurram-me ao ouvido que ainda tenho que ficar cá em baixo na senda do Amor...

Quando os lobos uivam

Quando os lobos uivam no silêncio distante da noite
A lua vem despedir-se na claridade quente que perpetua a chama da saudade
Os lobos uivam...
chamam de longe a imensidão do teu nome
A lua ilumina os clamados dos lobos
A saudade aperta num nó dentro do coração
Os lobos uivam...
Sabem o teu nome
que eu não sei
e a lua sorri perante a espera...

Parou o tempo

Parou o tempo num momento
Rainha de um trono desconhecido,
bebi o elixir da vida pelo copo do teu beijo...
Na pele ficou escrita a eternidade...
Nas almas a certeza do reencontro...
Atordoada pelos sentidos, toquei a nuvem branca dos teus sonhos,
Nesse instante, o tempo parou...
a infância regressou, atravessando os meandros do tempo e parou nos nossos pés, feridos de tanto caminhar numa Terra que não nos pertence...
Acordámos!
No teu colo despertei, vi Deus que me olhava através dos teus olhos de menino...
Tinha agora nas minhas mãos um pedacinho do Céu que me ofereceras...
E agora, eu sabia o que era ser novamente menina!...e nada mais importava!...

Somos gaivotas

Somos gaivotas livres
Com o mesmo horizonte de liberdade
Queremos mudar o mundo
Utopia a nossa...
Um dia os nossos voos cruzaram-se
Tu sabias que a espera era longa
Tu sabias que os ares que voavas eram os meus
Tu e eu sabíamos que o momento era efémero
Que todo o mundo se condensava naquele segundo de eternidade
E que a liberdade de poder mudar o mundo se sublimaria
no instante em que os nossos voos se cruzaram
talvez para sempre, talvez para a eternidade...
seremos sempre gaivotas, almas de pássaros juntas nessa missão de união e liberdade