Nasci com os pés no mar e a cabeça encostada à lua.
Cresci com o sabor a sal no sangue e o sol como amigo íntimo. Os meus sonhos sempre cheios de florestas tropicais, cheiro a terra molhada, cascatas batendo forte nas rochas, terras distantes com cheiros e cores singulares.
Parti para longe para realizar estes sonhos. O deslumbramento foi tal que dilatou o ser. O calor de sentir na pele a doçura escaldante da mescla de cores, cheiros e sabores que pairava naquela terra distante, abençoada pelos deuses do fogo. Ao longe, o som do rugir das feras na selva, como presságios duma vida livre e cheia de mistérios.
Sonhava ser grande, partir nos meus sonhos e descobrir o mundo. E parti. E descobri.
Sentei-me à janela da vida. Olhei para dentro de mim. Num dia de sol escaldante que derretia as pedras das calçadas, deixei que os sonhos converssassem comigo.
Viajei para lugares desconhecidos, para além dos céus e da terra. O mundo estava escondido dentro de mim.
Deixei-me levar.
Desse parto prematuro, nasciam as viagens mais belas, as imaginações mais mirabolantes.
Alcançaria eu essas bolas de sabão feitas de sonhos que se derretiam no ar ao mínimo impacto?
Um dia, voltei à terra que me viu nascer. Voltei a molhar os pés na água gélida das águas parturientes e encostei de novo a cabeça à lua.
Escrevi.
Construí os meus castelos de areia à beira mar na minha praia.
Escrevi tanto! Deixei a minha alma falar ao sabor da tinta sangue que me saía do peito. O sangue era tanto que manchava as páginas do livro. De tal maneira, que eu já não sabia se as palavras escritas eram minhas ou de alguém ou algo exterior a mim.
Do sonho de escrever um livro, nasceu um filho.
Com um filho em carne e osso - sonho maior dos sonhos- já tinha sido agraciada.
Faltava plantar a árvore.
A árvore que me daria sombra e frutos da imaginação, ramos para me ligar ao mais alto e raízes na terra para escrever o livro dos " sonhos que nasceram primeiro".
Um convite a entrar nesse mundo, o meu mundo de poesia e cor.
Uma viagem inesquecível pelos meandros do ser.
Porque, como dizia o poeta :"o sonho comanda a vida".
Os sonhos nascem sempre primeiro. Como embriões, crescem dentro de nós e depois nascem, e transformam-se em realidade. É só acreditar. Vamos sonhar?