quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Vertigem


Vertigem...
Ando de saltos altos na corda-bamba da vida...
olho-a do alto com receio de cair...
O céu fica longe...algures nas pupilas dos teus olhos...
Sonho em descer às nuvens...
Abraçar-te pela manhã...
sentir a vertigem de ficar novamente só...
descer à terra em saltos altos...
e sonhar voltar às nuvens na corda-bamba da vida...
Vertigem...


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Apanhei o sol na palma da minha mão



Apanhei o Sol na palma da minha mão...
minha mão queimou, latejou de dor, quente, laranja, provinda daquela partícula do Universo que me beijava as mãos..
Mesmo queimando, latejando, eu estava ali, quieta, muda de espanto...não acreditava...
Em breve viriam as bátegas de chuva, o frio.. que me toldariam os movimentos...
A Luz ofuscava..não, não poderia ser verdade...
Eu dançava na Luz, temendo de novo a Escuridão...
No entanto, eu queria-a, como também ela fazendo parte de mim...
Como se desta dualidade, eu fosse Eu própria...temendo mas querendo..
Querendo a Luz, mas receando-a, como se a minha própria luminosidade fosse grandiosa e ofuscante demais para abarcar meu Ser...
E assim permaneci com as mãos cheias do calor e da Luz...do outro lado o breu, escuro...o negrume...






terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Rugas da alma, traços de dor


Naquele fim de tarde de Outono, sentado num banco de jardim desgastado pelas intempéries das sucessivas estações..olhava para si...
Naquele rosto de meia-idade ainda permanecia  as faces de menino que fora,os olhos brilhavam num laivo de esperança que lhe acalentava os dias...as primeiras rugas tinham começado a sulcar-lhe o rosto, expressão de uma vida que lhe havia tatuado na alma outras rugas, outras marcas que ali permaneceriam para sempre...
Do menino que tinha sido já mal se recordava, arrancado à força da infância que o vira nascer nas mãos da sua avó cigana...
Do menino que nunca fora, apenas ficara o homem que conhecera todas as amarguras da vida
...nada mais ficara...senão as marcas duras, fundas, tatuadas na alma...
E daquele menino-homem se estenderam as mãos para o irmão que passava junto ao banco do jardim, pedindo ajuda...porque das suas mãos raiavam feixes de Luz, brilhantes como seus olhos, capazes de penetrarem o Mundo...pois duma alma sulcada pela dor, resta a Força que jaz adormecida...
e, qual Fénix renascida das cinzas, viu-se rodeado pela Esperança do Amor que pousou na sua cabeça, trazida nas mãos de um Anjo que lhe tocou suavemente as rugas tatuadas na sua alma ...

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Escrevo




  Escrevo...e encontro na quietude e silêncio das palavras soltas, o lugar para a minha solidão...
  Escrevo...e deixo soltar as lágrimas em gotas de sangue no papel branco que me acolhe, puro e virgem...
  Escrevo...e penetro no abismo da minha alma, sôfrega do encontro consigo mesma, ansiosa de perpetuar nas linhas e entrelinhas o tempo de uma vida que passa...
 Escrevo...e deixo as dores esvaziarem-se, turvas, na pele casta de um oceano desejado, por onde parti à descoberta...
 Escrevo...e descanso meu Ser...brinco com as palavras soltas ao vento, rabiscos de uma vida, talvez um dia esquecida, talvez um dia recordada nos confins de um baú no sótão de todos os segredos roubados...





sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Amor à chuva



O tempo parou...os dois estavam no meio da multidão que dispersou às primeiras bátegas de chuva naquela noite de Inverno, no virar de mais um ano em que o céu tremeu por entre luzes e faíscas de fogo  enviadas pelos deuses em esplendores de novas esperanças e estrelas brilhantes...

Naquele momento, o mundo parou para eles...ficaram sós os dois no meio da praça antes inundada pelas pessoas que festejavam...a música continuou a tocar só para eles..os dois eram talvez as estrelas de um qualquer filme romântico...selaram o seu amor para o resto das suas vidas naquele momento, com um beijo e embalaram seus corpos ao som da chuva e dos acordes da música...só para eles!...e os Deuses sorriram!..